O Fenômeno Criciúma Esporte Clube, por Alex Dagostim

Um fenômeno chamado Criciúma Esporte Clube

 

Calma. Antes de pegar uma pedra na mão para jogar no blogueiro, pare por um instante, relaxe. Leia o texto.

Mesmo sem ter craques mirabolantes, com certo jejum de títulos e uma má-fase bem recente, o Criciúma Esporte Clube é um fenômeno nacional. Repito: não é pelo futebol bonito. É pelo heroísmo em que o clube se mantém vivo.

Porque convenhamos meus amigos: manter um clube de futebol no Brasil é muito caro. Não é tarefa para qualquer um, nem para qualquer cidade. E manter um clube entre as principais divisões do Campeonato Brasileiro então…coisa de maluco!

O Brasil tem 26 estados e um distrito federal. São 5.553 municípios e  27 capitais ao todo. Destas 27 capitais, somente 9 tem clubes de futebol na primeira divisão do campeonato brasileiro. Quinze capitais sequer tem times na série B do nacional, sendo que destas 15, pelo menos 11 não tem clubes nem na terceira divisão.

Vejam bem: estamos falando das CAPITAIS, que são os centros administrativos de cada estado.

Porém, há que se admitir que algumas capitais não tem realmente um potencial econômico elevado. Ser uma capital é uma condição de vantagem, pois atrai maior população. Porém, nem toda capital é superpopulosa ou rica. Temos cidades de interior que se destacam tomando posições importantes em seus estados. Um exemplo clássico é Joinville, que não é a capital de Santa Catarina, mas é a cidade mais populosa e mais rica do estado.

Vemos muitas cidades mais ricas e mais populosas do que Criciúma, com grande potencial para o futebol, mas que não prosperaram neste esporte. Cito o emblemático caso de Blumenau: uma série de dissidências e brigas internas impediu a bela cidade de ter um clube de ponta em Santa Catarina. Vamos também outros exemplos do sul do Brasil: Londrina, Cascavel, Maringá, Ponta Grossa, Santa Maria. São as maiores cidades do interior do sul, mas sem representatividade do campeonato brasileiro de futebol, em nenhuma divisão.

Neste LINK, temos uma listagem das cidades mais populosas do Brasil. Vemos ali Criciúma na 140ª posição do ranking.

Então vamos refletir: Criciúma não é capital, não é grande, não é populosa, mas tem um clube de futebol que contraria todas as projeções, fugindo à lógica. Em uma cidade com menos de 200 mil habitantes, tem um time que figura entre os 40 melhores do país. Sendo que por várias oportunidades já figurou entre os 20 melhores.

E não é tudo. O notável clube de futebol do interior de Santa Catarina, sem aeroporto, sem BR duplicada, não se limita às participações, que convenhamos, pelo contexto já seriam um feito brilhante. Obteve os maiores êxitos do futebol catarinense, sendo campeão de três competições nacionais, sendo uma delas de grande importância. Vamos deixar a participação na libertadores como um plus à estas façanhas, que jamais foram sequer repetidas por outros clubes do mesmo estado.

De onde veio essa força motriz, esse algo mais, que fez a pequena Criciúma gerar em seus limites um clube de futebol vitorioso nos dias de hoje?

Sim, digo nos dias de hoje, pois no passado Criciúma foi palco de um celeiro de clubes. Boa Vista, Atlético Operário, Ouro Preto, Próspera, Comerciário e Metropol. Este último, apesar de inativo por muitos anos, ainda é lembrado e comemorado. Pentacampeão catarinense, e tri campeão sul brasileiro, além de uma fabulosa excursão pela Europa, onde enfrentou os gigantes e os venceu. O Zé Dassilva retrata essa trajetória magnífica em um de seus livros, chamado “Histórias que a bola esqueceu”.

Histórias que a bola esqueceu - José da Silva Jr., o Zé DassilvaHistórias que a bola esqueceu – Autor: José da Silva Jr. – O Zé Dassilva

Daquela época, sobreviveu o Comerciário, que se adaptou à modernidade e mudou seu nome para Criciúma Esporte Clube. Obra de Antenor Angeloni, que em uma manobra arriscada, vislumbrou que o crescimento passava pela dolorosa transformação, deixando vários órfãos e desesperados comercialinos de coração partido. Meu pai que o diga.

Mas as transformações não pararam por aí. O futebol viveu uma mudança brutal na década de 90, com a vigêngia da lei 9615/98, a Lei Pelé. Antigamente, futebol se fazia com amor à camisa e dedicação aos clubes pelos atletas, que permaneciam vários anos sem trocar de time. A partir da lei pelé, o mercado se prostituiu e os empresários tomaram conta, fazendo do futebol um emaranhado de interesses e uma grande fonte de dinheiro. Assim, os clubes maiores ganharam ainda mais vantagem sobre os menores, que vem tendo enormes dificuldades para se manter. O dinheiro comandava todas as ações dali em diante.

Os clubes tradicionais devem aos milhões, inclusive tributos, e não são cobrados. E apesar da velhacagem, continuam recebendo fontes inesgotáveis de patrocínios, subsídios, ESTÁDIOS. Enquanto os menores, são cobrados impiedosamente a ponto da quase falência, se brigando por algumas migalhas das quotas televisivas, uma pequena quota da grande fatia dividida entre os grandes velhacos deste país.

Além disso, há uma supervalorização de salários. Os melhores jogadores vão à Europa ganhando salários astronômicos. Os razoáveis, jogam nos clubes tradicionais ganhando fortunas. Os normais, os ruins e os ridículos se misturam em um patamar de salários extravagantes para seus ridículos desempenhos.

Vemos os exemplos dos gigantes de outrora, que hoje amargam duras penas: Santa Cruz/PE, na série C. Clube do Remo/PA, disputando vaga na série D. Juventude/RS, disputando vaga na série D. São exemplos de clubes tradicionais, com torcida numerosa, que hoje pagam a conta da lei pelé, que é cruel e privilegia o clube mais rico, não o com maior torcida. Vemos anomalias como Barueri e Guaratinguetá prosperarem em estádios às moscas, que aliás, ficam rodeando os empresários de futebol, pelo odor desagradável que exalam. Atletas vão onde lhes é mais rentável, e não onde lhes dá mais prestígio.

Vejam então, senhores, que o Criciúma E.C. deu um jeito de sobreviver a tudo isso. Passou por fases terríveis, é bem verdade. Mas sobreviveu. Como? Algo que a razão não explica. Mas a paixão sim.

O Criciúma teve a sorte de nascer em uma terra de apaixonados pelo futebol. Gente que não mede esforços para representar sua terra, a qualquer custo, sob vários sacrifícios. É uma bandeira levantada por todos. Nos momentos delicados e decisivos, nunca houve o abandono. Pelo contrário: se fizeram as mobilizações necessárias para unir forças em prol de um filho querido.

Uma cidade com menos de 200 mil habitantes, com um clube que teve mais de 10.000 sócios em uma série B. Que colocou quase 33.000 pessoas em sua lotação máxima. Uma torcida que está presente em todos os jogos, inclusive fora de casa. Uma torcida que acompanha treinos, aos milhares. Que deixa o adversário intimidado, desde a madrugada, perturbando o seu sono. Que acompanhou suas derrotas com lágrimas nos olhos, mas com a gana e a vontade da superação.

O clube Criciúma ficou maior do que a cidade de Criciúma.

O Criciúma é notável. E grande. Tão grande quanto o coração de cada torcedor do Tigre. Porque são os torcedores que levaram o clube à suas conquistas, e o manterão sempre vivo, a qualquer custo, nem que seja na marra, na força, na união do povo. É uma paixão tão intensa que contagiou as cidades irmãs, nos arredores, e cativou paixões em Santa Catarina, e até fora do estado. Gente que torce para o Criciúma do Rio de Janeiro, do Piauí (confiram os links), sem ter nunca pisado no estádio Heriberto Hulse.

Fonte: www.criciumaesporteclube.comBandeira tricolor: A maior bandeira de um clube de futebol catarinense foi hasteada graças à união da torcida que arcou com os custos do mastro e do pavilhão. Show!

Paulo Estrela: Carioca da Gema apaixonado pelo Tigre!

Gillian Noleto: Nascido no Piauí mas apaixonado pelo Criciúma, Gillian se tornou sócio do clube. Seu sonho é assistir uma partida no Heriberto Hülse!

Torcer para o Criciúma é algo forte, intenso, grandioso. É este sentimento que carrega o clube, entre os maiores do país, contrariando todas as expectativas, lógicas e cálculos. Suas conquistas atraíram os olhos do país para esta cidade do interior, causando espanto, escândalo e uma legião de admiradores do pequeno “Davi” do futebol.

Duvidam da legião de admiradores? Pois eu lhes provo que ela existe. Existem vários “Criciúmas” pelo país. Existe o Criciúma da Bahia, o Criciúma carioca, o Criciúma alagoano. Continuam duvidando? É só consultar este LINK.

Criciúma de Mucambo/CE

Criciúma Carioca

A turma super gente fina do Criciúma Society, de Alagoas. Tem site e tudo! http://www.criciumaesporteclubesociety.com/

Fato curioso: Tem um Criciúma Esporte Clube em Contagem/MG, com CNPJ e tudo!

O Criciúma E.C. é um fenômeno. A força de um pequeno clube que o fez gigante frente aos outros.

Por isso, o Criciúma é único. Inimitável, incomparável. Uma incógnita, um contra-senso. Por isso é tão maravilhoso torcer para este clube. Porque ele é nosso, é nossa terra, nossa cidade e nossa região se fazendo presente frente ao eixo rio-são paulo, em um caldeirão que nunca deixou o adversário ser maioria.

E quem acha isso pouco para chamar o Criciúma de fenômeno, que me apresente algo espetacular. Nada de trivial: precisa superar todas as expectativas, quebrar barreiras, conquistar vitórias impossíveis.

O Criciúma somos nós.

Saudações tricolores!

18 pensamentos sobre “O Fenômeno Criciúma Esporte Clube, por Alex Dagostim

  1. Emocionante e verdadeiro. tenho orgulho em dizer que sou catarinense e meu time tbm… CRICIUMA definitivamente é o maior de SC

  2. Eu, também fiquei torcedor do Criciúma, aprendi a respeitar o Clube e a todos que lá trabalham, tive uma ótima experiência de convivência, trabalho e oportunidade. Quis o destino e algumas falhas a nossa separação, mas não diminuiu o meu respeito e administração, pelo contrário só aumenta, mas torço para nos reencontrar logo ali a frente… Este Clube é um gigante … Parabéns pelo relato…

  3. Prezado Condutor do Blog:

    Mais uma vez, venho solicitar que seu blog indique a autoria do texto.

    Ele voltou a viralizar e infelizmente todos estão reproduzindo como “autor desconhecido”, o que é um grande desrespeito.

    Você reproduziu o texto integralmente do meu blog e colocou como “autor desconhecido”.

    Aqui está o link:

    Um fenômeno chamado Criciúma Esporte Clube

    Meu nome é Alex Dagostim, autor do texto.

    Gentileza citar a referência ao texto original. Ou então, retirar o texto de seu blog, uma vez que a autoria não é sua.

    Obrigado.

  4. Prezado Dono do Blog Todo Esporte SC,

    Sou o autor do texto em questão. Meu nome é Alex Dagostim.

    Aqui está o link da postagem original:

    Um fenômeno chamado Criciúma Esporte Clube

    Vou lhe pedir a gentileza de mencionar a autoria do meu texto em seu blog. Nome do autor e link do blog.

    O texto voltou a viralizar, porém, todos estão compartilhando como “autor desconhecido”, o que você deve convir que é uma grande injustiça. Foi um trabalho que exigiu pesquisa e bastante tempo envolvido, para ser divulgado sem qualquer crédito ao autor.

    Solicito, portanto, que você corrija seu texto dando os devidos créditos. Se não desejar assim fazê-lo, gentileza retirá-lo do ar.

    Se não o fizer, aí infelizmente precisarei reivindicar a autoria por outros caminhos.

    Obrigado pela atenção e estou certo de sua colaboração.

  5. Prezados, lamento pelo aborrecimento em não mencionar o autor, senhor Alex Dagostim. Na verdade, foi-nos enviado por um amigo, torcedor do Tigre, e publicamos por achar um texto excelente e, na oportunidade, nem passou pela nossa cabeça desmerecer, ofender ou menosprezar o autor, pelo contrário. Jamais tivemos a intenção de nos favorecer, financeira ou intelectualmente do conteúdo ou da opinião do autor.
    Reitero que o blog estava parado e não o abrimos mais, nem tomamos conhecimento do que estava ocorrendo, sequer imaginávamos que a crônica tivesse a repercussão que deu.
    Mais uma vez, portanto, pedimos humildes desculpas pelo inconveniente.
    Forte abraço à nação criciumense.

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